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Democracia da Cooperação: proposta socioeconômica para o século XXI

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Por: Rosalvi Monteagudo


A crise das democracias representativas e os limites do capitalismo globalizado têm gerado crescente debate sobre alternativas econômicas e sociais. Nesse contexto, o cooperativismo, historicamente concebido como forma de organização coletiva da produção e do consumo, apresenta-se como um caminho viável para equilibrar participação social, justiça econômica e sustentabilidade.


A proposta de Rosalvi Monteagudo, em Democracia da Cooperação: Proposta Socioeconômica para o Século XXI (2025), ressignifica o cooperativismo ao transformá-lo em fundamento de uma nova forma de democracia, ampliando o exercício democrático para além da esfera política e incorporando-o à vida econômica e social.


Revisão de Literatura


Cooperativismo e democracia


As raízes do cooperativismo remontam a Rochdale (1844), onde trabalhadores ingleses organizaram-se em torno de princípios como adesão livre, gestão democrática e deram origem a uma forma de democracia econômica que se distingue do modelo político liberal.


Paulo Freire e a educação para a cooperação


Paulo Freire (1996) destaca que a educação libertadora é essencial para que indivíduos participem ativamente da transformação social. Essa perspectiva dialoga com a democracia da cooperação, que exige formação contínua dos cooperados para que possam atuar como sujeitos plenos de direitos e responsabilidades.


Polanyi e os limites do mercado


Karl Polanyi (2000) analisa a “grande transformação” promovida pela mercantilização da sociedade e alerta para os riscos de subordinar todas as esferas da vida ao mercado. A democracia da cooperação se apresenta como resposta a esse processo, ao propor formas de gestão solidária e interdependente.


Singer e a economia solidária


Paul Singer (2002) reforça a economia solidária como espaço de resistência ao capitalismo excludente, ressaltando sua capacidade de gerar trabalho, renda e inclusão social. Nesse campo, a democracia da cooperação aparece como proposta avançada para consolidar um novo paradigma.



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Discussão


A Democracia da Cooperação representa uma síntese entre a prática histórica do cooperativismo e a necessidade de inovação institucional. Diferentemente da democracia representativa, que concentra poder em elites políticas, a democracia da cooperação:


1. Valoriza a participação direta dos cooperados na gestão;


2. Promove a intercooperação como forma de integração econômica e social;


3. Busca a sustentabilidade por meio do uso racional de recursos humanos, materiais e financeiros;


4. Oferece uma alternativa concreta ao corporativismo estatal, que tende a sufocar a inovação e a autonomia social.


Essa proposta também se insere no debate sobre os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2015), pois relaciona democracia, economia e sustentabilidade em um mesmo projeto civilizatório.


A Democracia da Cooperação constitui um marco teórico-prático que amplia os horizontes do cooperativismo e propõe um modelo socioeconômico alternativo, capaz de enfrentar os desafios do século XXI. Ao integrar participação democrática, justiça social e sustentabilidade, essa proposta se posiciona como caminho inovador para a construção de sociedades mais equitativas e solidárias.


A obra de Rosalvi Monteagudo (2025) não apenas contribui para o debate acadêmico, mas também inspira práticas transformadoras, apontando que o futuro da democracia depende de sua capacidade de incorporar a cooperação como princípio fundamental.



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Referências


FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.


INTERNATIONAL CO-OPERATIVE ALLIANCE (ICA). Statement on the Cooperative Identity. Manchester: ICA, 1995.


MONTEAGUDO, Rosalvi. Democracia da Cooperação: proposta socioeconômica para o século XXI. Florianópolis SC Ed. Expressão, 2025. (No prelo)


POLANYI, Karl. A grande transformação: as origens da nossa época. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2000.


SINGER, Paul. Introdução à economia solidária. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2002.


UNITED NATIONS (ONU). Transforming our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development. New York: UN, 2015.


Rosalvi Monteagudo é mestre em cooperativismo, formada pelo CEDOPE/UNISINOS (RS), e atua como pesquisadora, professora e articulista. É membro da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) e da Associação Brasileira dos Pesquisadores de Economia Solidária.
Rosalvi Monteagudo é mestre em cooperativismo, formada pelo CEDOPE/UNISINOS (RS), e atua como pesquisadora, professora e articulista. É membro da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) e da Associação Brasileira dos Pesquisadores de Economia Solidária.

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