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Cooperativismo : A Solução do Século XXI

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Por Rosalvi Monteagudo


Vivemos em um século marcado por profundas contradições. O avanço tecnológico convive com a exclusão social. A produção de riquezas cresce, mas a concentração de renda se agrava. E enquanto as instituições tradicionais entram em crise, o cooperativismo ressurge como uma proposta atual e transformadora. Mas há um desafio oculto e urgente: diferenciar o cooperativismo real, solidário e transformador, daquele que se adaptou ao sistema, tornando-se apenas mais uma engrenagem do modelo neoliberal. É este o confronto que propomos nomear de Cooperativismo versus Cooperativismo.


O cooperativismo original: um projeto de emancipação


O cooperativismo nasceu como um movimento de resistência dos trabalhadores e camponeses à exploração capitalista, propondo uma economia construída coletivamente, baseada na solidariedade, na autogestão e na justiça social. Inspirado por princípios como adesão voluntária, gestão democrática, participação econômica dos membros e preocupação com a comunidade, esse modelo sempre foi mais que uma forma de organização econômica: é uma filosofia de vida, uma prática de cidadania ativa.


No século XXI, com as desigualdades se agravando e o meio ambiente pedindo socorro, o cooperativismo ganha um novo papel: o de reorganizar o tecido social a partir da base, colocando o ser humano no centro da economia.


O outro cooperativismo: adaptação ao sistema


Contudo, há um risco crescente: o de um cooperativismo que se torna apenas uma fachada. Nele, os princípios são mantidos no discurso, mas abandonados na prática. Algumas cooperativas passaram a operar como empresas comuns, buscando lucros acima da solidariedade, contratando em vez de associar, competindo em vez de cooperar. Esse tipo de cooperativismo perdeu sua alma, tornando-se apenas uma forma disfarçada de exploração — a serviço do capital e não das pessoas.


Esse modelo coopta o nome do cooperativismo, mas não sua essência. E assim, confunde a sociedade, mina a credibilidade do movimento e impede sua força transformadora de emergir com plenitude.


A escolha histórica: qual cooperativismo queremos?


O século XXI exige uma escolha clara: um retorno ao cooperativismo autêntico, atualizado com as novas tecnologias, conectado globalmente, mas fiel à sua raiz solidária e democrática. É preciso fazer a travessia de um cooperativismo funcional, subordinado à lógica do mercado, para um cooperativismo político, ético, e socialmente comprometido — um instrumento da construção de outro modelo de desenvolvimento.


Este novo cooperativismo não se limita à produção e consumo. Ele abarca a educação, a cultura, o crédito, a saúde, a tecnologia e a política. Ele promove a intercooperação como caminho de integração entre iniciativas locais e soluções globais. E resgata a ideia de que é possível organizar o social para construir o capital, e não o contrário.


O cooperativismo como solução global


Em tempos de crises múltiplas — ambiental, social, política e econômica — o cooperativismo real se apresenta como a solução do século XXI. Não como uma utopia distante, mas como um caminho viável, concreto e necessário. Ele oferece uma alternativa ao neoliberalismo, não pelo confronto direto, mas pela criação de um novo paradigma: o da democracia da cooperação.


Neste modelo, a economia é colocada a serviço da vida. O trabalho volta a ter sentido. O capital deixa de ser fim para ser meio. E a paz, que antes era uma esperança, passa a ser consequência de uma nova organização do mundo — de baixo para cima, entre iguais.


O dilema está posto: Cooperativismo versus cooperativismo. Um reproduz o sistema; o outro o transforma. Cabe a nós, cooperadores, estudiosos e militantes, fazer essa distinção e lutar pelo resgate da verdadeira doutrina cooperativa. Não é apenas uma escolha técnica ou econômica. É uma escolha civilizatória.


Se o século XX foi dominado por guerras e sistemas excludentes, que o século XXI seja lembrado como o tempo em que escolhemos cooperar, partilhar e reconstruir a humanidade a partir da solidariedade.


Democracia da cooperação: proposta socioeconômica para o século XXI

No prelo na editora Expressão. 2025


Rosalvi Monteagudo é mestre em cooperativismo, formada pelo CEDOPE/UNISINOS (RS), e atua como pesquisadora, professora e articulista. É membro da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) e da Associação Brasileira dos Pesquisadores de Economia Solidária.
Rosalvi Monteagudo é mestre em cooperativismo, formada pelo CEDOPE/UNISINOS (RS), e atua como pesquisadora, professora e articulista. É membro da Aliança Cooperativa Internacional (ACI) e da Associação Brasileira dos Pesquisadores de Economia Solidária.


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